Tecendo a manhã – Nena Inoue

Vivemos agora as consequências da pandemia. Isolados em casa, misturam-se em nós a vontade de expressão do sentimento íntimo com a necessidade de ouvir o que diz a ciência. Como no poema Tecendo a Manhã, de João Cabral de Melo Neto, em que a lírica é tecida com os fios da razão, nos irmanamos com a ideia de que será preciso unir os cantos de cada um – a partir de nossos quartos, casas e quintais – para forjar uma nova realidade. Convidamos pessoas da cultura e artistas de várias linguagens para gravar um vídeo curto, dizendo aos outros aquilo que lhes parece ser mais importante diante desta situação-limite.

Nena Inoue, enviou de Curitiba, a nosso pedido, este vídeo. É intenso e ao mesmo tempo muito delicado. Ela veio de mãos dadas com Eduardo Galeano, trouxe um trecho do texto do espetáculo “Para não morrer”, que lhe deu o Prêmio Shell em 2019 e o troféu Gralha Azul em 2017. A fala, como diz, é a partir de uma garganta de mulher. Que conta uma história para manter-se viva. No atual contexto, de tantas fomes, é alimento para todos nós.

Nena Inoue (Córdoba/Argentina, 1960) apresenta-se assim: “Sou atriz, diretora, artista,
gestora, ativista cultural e crio meus trabalhos na cidade de Curitiba/PR/Brasil. Faço teatro há
40 anos ininterruptamente. Participei de mais de 80 espetáculos. Criei o Espaço Cênico em
1997 e após 16 anos de intensa programação entreguei a sede física em 2013. Segui firme e
forte desenvolvendo projetos mais políticos, como os espetáculos “Henfil Já!”, “Murro em
Ponta de Faca”, “Para Não Morrer”. E os projetos Outras Leituras; Leituras da Ditadura e
edições anuais do Curitiba Mostra, que mescla trabalhos de artistas consagrados e jovens
artistas locais. De 2006 a 2009 fui Diretora Artística no Teatro Guaíra, na gestão de Nitis Jacon.

CENA ABERTA publicará os vídeos, às segundas, quartas, sextas-feiras e sábados. Agradecemos muitíssimo a todos e todas que puderam e quiseram responder ao nosso chamado. Nossa intenção é construir com essas vozes ora isoladas não só um coro, como também um registro, um documento crítico-afetivo sobre o presente.